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Disciplinas que ensinam felicidade viram moda nas universidades


Dores abdominais, indigestão e azia. Os sintomas começaram a fazer parte da rotina de Matheus Figueiredo, 22 anos, após seu ingresso no curso de Engenharia de Software da Universidade de Brasília (UnB). O início da jornada acadêmica na nona melhor universidade brasileira também coincidiria com uma crise de gastrite nervosa desencadeada pela ansiedade e pelo estresse decorrentes do nível de exigência do curso. “Nos semestres iniciais da graduação, tivemos uma matéria na qual eu não estava indo muito bem, apesar do meu esforço”, conta o estudante que,na época, estava angustiado com a iminente reprovação na disciplina.

“No decorrer do curso, descobri que várias pessoas tinham problemas de ansiedade, e algumas delas, apesar de não aparentarem, tinham depressão”, revela Figueiredo, que hoje está no décimo semestre da graduação. Não à toa, o campus Gama, frequentado por ele, é o campeão de evasão entre as unidades de ensino da UnB: de 2007 a 2017, 67,38% dos alunos da faculdade de Engenharia da instituição desistiram de continuar seus estudos.

Publicada neste ano no periódico científico Journal of Abnormal Psychology, uma pesquisa realizada pela Associação Americana de Psicologia revela que a história vivida por Figueiredo está longe de ser uma exceção entre os estudantes de diferentes partes do planeta. Utilizando a base de dados de um estudo conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) direcionado a jovens universitários, os pesquisadores observaram que 35% dos calouros apresentavam pelo menos um tipo de transtorno mental que poderia causar consequências psicológicas por toda a vida e 31% apresentavam alguma desordem emocional temporária.
A pedido de estudantes, pais e professores da UnB, uma Comissão de Saúde Mental foi criada para realizar o acompanhamento psicopedagógico dos jovens. Além de fórmulas, cálculos e teorias, o campus Gama passou a tratar a saúde mental como um dos temas abordados em sala de aula. Mestre e doutor em Psicologia, o professor Wander Cleber Pereira é o responsável por ministrar a disciplina Tópicos Especiais em Engenharia de Software – Felicidade, que começou a ser lecionada no dia 7 de agosto deste ano. É a primeira vez que uma matéria sobre felicidade é oferecida em uma universidade pública brasileira. “É preciso resgatar a vivência de ser feliz na comunidade universitária. Muitos têm vontade de desistir, por isso decidi criar essa disciplina”, explica Pereira.

Para além de livros de autoajuda e palestras motivacionais, o estudo científico da felicidade tem ganhado os laboratórios e as salas de aula de diferentes instituições acadêmicas do planeta. Nos EUA, berço da psicologia positiva (estudo dos aspectos positivos da vida), as disciplinas que discutem a felicidade são oferecidas desde o início dos anos 2000 e, de longe, são as matérias mais concorridas em universidades como Harvard e Yale. Nem sempre foi assim.
Mapa da felicidade
Inspirada na experiência do Butão, país que criou o índice de Felicidade Interna Bruta, a ONU lançou, em 2012, um Relatório Mundial da Felicidade, que analisa os níveis de satisfação em 156 países; veja algumas posições:
Mapa da felicidade (Foto: Ilustração: Yorka)
Os cinco países mais felizes se concentram na Europa:
1º Finlândia
2º Noruega
3º Dinamarca
4º Islândia
5º Suíça
País LATINO mais feliz: 
13º Costa Rica
Quando o professor israelense Tal Ben--Shahar inaugurou na Universidade Harvard a disciplina Aplicação da Psicologia Positiva, apenas oito estudantes se matricularam — e dois acabaram desistindo ao longo do semestre. Com o passar dos anos, o trabalho do “pesquisador feliz” ganhou popularidade e, a cada semestre, mais de 1,4 mil alunos se matriculam nas aulas em busca de informações sobre a positividade mental.

Em uma pesquisa realizada posteriormente, 23% dos estudantes afirmaram que a disciplina ministrada por Ben-Shahar havia mudado suas vidas para melhor.

Tais resultados são reflexos diretos do desenvolvimento da psicologia positiva como campo científico, afirma Helder Kamei, que é mestre no tema pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “Há décadas a psicologia trabalha para o desenvolvimento de tratamentos que diminuam o sofrimento das pessoas, mas a partir do lançamento do livro Felicidade Autêntica, de Martin Seligman [professor norte-americano que já foi presidente da Associação Americana de Psicologia e é considerado um dos mais importantes especialistas no assunto], a psicologia positiva começou a ganhar força, defendendo que também é necessário estudar os mecanismos que nos proporcionam satisfação e bem-estar”, explica Kamei. “Com isso, descobrimos que diminuir o nível de infelicidade não é a mesma coisa que aumentar nossa felicidade, e que nós, psicólogos, podemos trabalhar em prol dos dois fatores.”

Com a promessa de identificar o que nos faz autenticamente felizes, a psicologia positiva avança com estudos sobre o impacto de fatores como atividades físicas, redes sociais, consumismo, generosidade, gratidão e resiliência. Em suas palestras, Tal Ben-Shahar tenta facilitar a árdua tarefa de ser feliz resumindo cinco pontos ressaltados pela ciência que podem realmente aumentar nosso bem-estar.

A “busca científica pela felicidade” também levou à criação de uma disciplina, em agosto deste ano, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina, que se tornou a primeira instituição de ensino superior privada do Brasil a oferecer uma matéria com esse foco. “Estamos passando por um momento de transformações que envolvem as estruturas da experiência de aprendizagem”, afirma Robson Freire, professor da Univali que criou a cátedra Sentidos da Vida. “A proposta agora é trabalhar com o conhecimento integrado. É a busca por estimular a compreensão dos ‘porquês’ e dos ‘para onde’, afastando-se dos ‘comos’ e dos ‘quandos’, além de trabalhar a formação dos jovens não só como profissionais mas como cidadãos.”

É isso que percebem os estudantes da primeira turma de Sentidos da Vida — que, a partir do ano que vem, será obrigatória em todos os cursos oferecidos pela Univali. Em parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), a matéria também será transformada em um curso de aperfeiçoamento para professores. “Atualmente, o mercado de trabalho não exige somente que o profissional seja tecnicamente competente, é preciso que também saiba cultivar relações interpessoais”, analisa Talita Lopes, estudante do curso de Estética e Cosmética. Emir de Lima, colega de classe, também diz acreditar que a valorização da inteligência emocional é um diferencial para o mercado de trabalho. “Muitas vezes, o que nos falta é saber claramente o que queremos, o que nos desmotiva e do que gostamos”, conta ele.

Bibliografia
Algumas das principais referências sobre os estudos da felicidade
Ética a Nicômaco
A principal obra de Aristóteles sobre ética é fundamental para compreender a construção ocidental de conceitos como virtude, felicidade, amor e moral.
Felicidade Autêntica
Publicado em 2002, o livro do psicológo norte-americano Martin Seligman lançou as bases para os estudos da psicologia positiva.
O Jeito Harvard de Ser Feliz
Pupilo de Tal Ben-Shahar, Shawn Achor mostra como não cair no conto de que o sucesso traz felicidade. Na realidade, quando somos positivos, nosso cérebro é mais produtivo.
Flow
O húngaro Mihaly Csikszentmihalyi é um dos principais pesquisadores da psicologia positiva. Ele defende que o “estado de fluxo” (flow, em inglês) pode otimizar a felicidade e a criatividade humanas.
FONTE: REVISTA GALILEU

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